Vamberto Freitas - Bem sei que esta pergunta se torna cansativa, mas aí vai ela: achas que ainda existe espaço para a intervenção político-cultural de um poeta e/ou escritor na sociedade actual, ou o reinante economicismo do momento vai vencer(-nos) todos?
Emanuel Jorge Botelho - A luta entre economicismo (nomeadamente na sua versão tecnocrática e castradora) e a intervenção do escritor, do poeta, é uma luta desigual.
O poeta está (de longe...) à frente. Mas só poderá erguer o troféu da palavra quando a sua sede encontrar, não o coice do vinagre, mas a água do afago, e do desejo.
Jean Cocteau escreveu que "o poeta não procura nenhuma admiração; quer ser acreditado."
Engatando Cocteau na tua questão, eu diria, metaforicamente, que nada se resolverá enquanto a "crença" dos destinatários não for capaz de (assumidamente) destronar os idolatras do "credito".
(entrevista conduzida por Vamberto Freitas, datada de 1993 e recolhida em Mar Cavado: Da Literatura Açoriana e de Outras Narrativas, edições Salamandra, 1998)
1 comentário:
Belo título para um blogue.
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