POEMA NA RUA
Ao Albano Martins
O poema sai de casa.
Mal se despede do pai.
Sai livre, mas vulnerável
como qualquer ser mortal.
Sai para a rua concreta
do movimento. Vai nu.
Andando por suas pernas
voláteis à contra-luz.
É negro nos seus cabelos,
nos sovacos e púbis.
As suas costas são brancas.
Só é verde a sua voz.
Nos lábios tem, perceptível,
além do ouro de um dente
que brilha, sob a saliva,
molar e caninamente,
a língua – que é incisiva.
E, invisível aos olhos,
o céu da boca, guarita
da dentadura feroz.
Assim, na rua, viaja
com seus meios expeditos:
sexo contente, sem parra,
comunitário o umbigo.
Assim se cumpre e propaga.
Ou morre, sem nenhum grito,
varado por uma bala
de esquecimento.
- Sozinho.
(de Cidade sem Tempo, edição do Autor, 1985)
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