13.12.08

CHARLES SIMIC

O tempo dos poetas menores está a chegar. Adeus Whitman, Dickinson, Frost. Bem-vindos vós cuja fama nunca passará da família mais chegada, e talvez um ou dois amigos íntimos reunidos depois do jantar à volta de um jarrão de rude vinho tinto... enquanto as crianças adormecem e se queixam do barulho que fazes ao vasculhar os armários à procura dos teu poemas antigos, com medo que a tua mulher os tenha deitado fora na limpeza da última primavera.
Neva, diz alguém que espreitou a noite escura e que, depois, também se volta para ti quando te preparas para ler, de uma forma algo teatral e uma face que cora, o longo e tortuoso poema de amor cuja estrofe final (que não sabes) falta sem remissão.

- segundo Aleksandar Ristóvič

(in Previsão de tempo para utopia e arredores, tradução de José Alberto Oliveira, Assírio & Alvim, 2002 – documenta poetica)

1 comentário:

bruno vilar disse...

Fabuloso poema: em partes iguais pessimista e realista.

Há dias reli o " Se " de Rudyard Kipling e disse para com os botões:
dificilmente se repetirá tamanha obra-prima.