9.2.10

MARIA ALBERTA MENÉRES


Inquieto sono o teu, sobre a copa das árvores.
A cada voz de pássaro ocultado
estremecem teus lábios virtuais!

Uma pequena saudade vem de ti
e do próximo rumor da madrugada
onde vais esquecendo teu primeiro sentido.

Já subindo da terra te oferecem as flores,
em cada gesto igual que as distingue,
o alimento para a tua fome.

E entrarás no primeiro segredo
e teus lábios virtuais repetirão as flores
abençoadas na carne e pelo tempo!

Já nos teus olhos correm as cascatas do mundo,
as belas cascatas indomáveis
onde a pequena pedra tem um corpo alegre!

Mas tu não ris, que o riso partiria
mais solto do que o vento, mais leve que a neblina,
e viria tocar breve o teu sono.

Mas tu não ris: e fácil, redimido,
entrarás no primeiro segredo
que para nós se oculta sob a copa das árvores.


(de Cântico de Barro, 1954)

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