2.6.10

TERESA TUDELA


Estas palavras que se dizem
como quem despeja um balde de água suja no tanque
que se dizem
não pra agredir o tanque
mas pra despejar o balde
mas que doem
como ferem
como ganham vida de punhos cerrados
mal se soltam no ar
como o filho que nos nasceu
e cresceu
e se fez seu contra nós
estas palavras crescem
no espaço de ar
do caminho percorrido
e no caminho se tomam
o corpo do som que têm
libertam-se da intenção primeira
refazem-se da mutilação sofrida
são elas no seu todo inteiro
o inteiro peso
o volume prenhe
com que esmagam
e entopem
o esgoto do tanque indefeso


(de No Côncavo da Aresta, edição da Autora, 1982)

Sem comentários: