ANA LUÍSA AMARAL
UTOPIAS RESPIRÁVEIS
Uma respiração até ao fundo:
oxigenada a memória
Tudo é possível a partir de então,
aí se cuidam: imaginação,
sorumbático livro de pensar
(inspirar fundamente e livres
as amarras do dever)
Vagabundam-se as horas, momentos
de saber tornam-se espaços que
não sendo espaços, são-no de pressentir
em nova geometria:
Linhas desalinhadas, novas linhas
conjugadas num jeito tão desfeito
que chega a ser perfeito esse quadrado
sem cruz, que na cabala dos mortais
é o sinal fechado da ausência de luz
Então se vêem girassóis nocturnos,
então se vêem diurnas cavernas
com teseus aos milhares despedaçados.
E sábios minotauros inspirados
por fios opacos mas fosforescentes
saem à praça do saber das gentes
sem livros, sem riquezas, sem sapatos.
(de Minha Senhora de Quê, 1990)
Acúfenos, María Rosa Maldonado, Kriller 71
Há 3 horas
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