IVAN LAUCIK
ANOTAÇÃO DE FIM DE TARDE
Nada importa, dizem-te pela manhã:
E tu (vês-te obrigado) duvidas destas palavras todo o dia.
Resiste, entretém os peixes,
canta-lhes em voz alta sobre a ponte...
Os momentos de alegria quase te envergonham:
As distâncias convenientes, relação de altura e profundidade,
os invernos curtos, vento em conta para os moinhos -
e um tempo longo coberto
de ornamentos de ferro!
(Os livros de Lógica estão gastos
pelas mãos e pelo suor!)
Alguém que ouve mal embriaga-se de palavras:
O futuro pertence apenas aos helicópteros silenciosos,
capazes de aterrar na palma da mão.
(Haverá palma da mão?) E continua em sonhos
a separar-se o comestível do que não presta.
Sim, chegam-nos plantas cheias de entusiasmo.
Mas não é por isso que a folha artificial é menos verde.
Assim os incrédulos valorizam a fé.
Os infalíveis esperam ser salvos pelos nossos erros.
Os vivos sabem
que tudo importa
desde manhã.
(de Mobilis in mobile, tradução colectiva (Outubro 1997) revista e apresentada por Pedro Mexia, Quetzal editores, 1999)
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