18.2.12


ADOLFO CASAIS MONTEIRO


TRÊS POEMAS DE LONDRES

I

Talvez, estrangeiro em qualquer parte,
fosse a minha pátria ser livre
no diverso perder-me em todo o mundo...

Talvez esta imagem me persiga
até ao fim, de ser nada em toda a parte,
para ser cada novo instante um estrangeiro
que não entende sequer a língua de si mesmo.
Talvez na vida valha só perdermos
a ganhar outro ser em cada coisa
– e saber algum dia ser ninguém, pousando
sobre a quimera das horas o sorriso
de quem tanto perdeu que nada é mais...

II

Quantas vezes a vida principia?
Tudo é começar, quando se ama!
Amor de quê? Da névoa e do silêncio
subindo entre o passado e o presente?
Ou do claro esvoaçar de um riso
que entre as pálpebras da noite se adivinha?

III

                                  Ao Sérgio Viotti

Dorme na paz provisória
de ser como não haver morte.

Não queimes a inocência
de que o dia te vestiu.

Sonha, acordado, sem luto
por tudo ter sempre um fim.

Deixa, queimado no porto,
o navio do regresso

– contigo vai só o vento
que não tem âncora, nem lei.


(de Noite Aberta aos Quatro Ventos, 1943/1959)

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