MARIANNE MOORE
A EMBALSAMADA POLÍTICA
Nada há a dizer a teu favor. Guarda
o teu segredo. Oculta-o sob a tua plumagem
áspera,
necromante.
Ó
ave, cujas tendas foram "toldos de fio
egípcio", a vaga inscrição em ziguezague da Justiça
– inclinando-se
como uma bailarina –
há-de mostrar
a força da sua soberania outrora viva?
Dizes que não, e transmigrando do
sarcófago,
tu és como o vento,
a neve,
o silêncio à nossa volta, com a voz de um moribundo,
semi-titubeante e semi-senhoril, tu espias
em redor. Íbis,
em ti qualquer virtude
não
existe – tu, que estás viva, mas tão silenciosa.
O comportamento discreto não é agora a síntese
do bom senso
do estadista.
Mesmo
que fosse a encarnação da graça morta?
Como se uma máscara da morte pudesse alguma vez substituir
a excelência
imperfeita da vida!
Lenta
até para reparar no íngreme e rígido equilíbrio
do teu trono, hás-de ver a forte distorção
dos sonhos
suicidas
passar
cambaleante em sua direcção e com o bico
atacar a sua própria identidade, até
o inimigo
parecer amigo e o amigo parecer
inimigo.
(in Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop, tradução
de Maria de Lourdes Guimarães, Campo das Letras, 1999 – colecção Aprendiz de Feiticeiro)
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