19.2.12


MARIANNE MOORE


A EMBALSAMADA POLÍTICA

Nada há a dizer a teu favor. Guarda
o teu segredo. Oculta-o sob a tua plumagem
          áspera, necromante.
                    Ó
ave, cujas tendas foram "toldos de fio
egípcio", a vaga inscrição em ziguezague da Justiça
          – inclinando-se como uma bailarina –
                    há-de mostrar
a força da sua soberania outrora viva?
Dizes que não, e transmigrando do
          sarcófago, tu és como o vento,
                    a neve,
o silêncio à nossa volta, com a voz de um moribundo,
semi-titubeante e semi-senhoril, tu espias
          em redor. Íbis, em ti qualquer virtude
                    não
existe – tu, que estás viva, mas tão silenciosa.
O comportamento discreto não é agora a síntese
          do bom senso do estadista.
                    Mesmo
que fosse a encarnação da graça morta?
Como se uma máscara da morte pudesse alguma vez substituir
          a excelência imperfeita da vida!
                    Lenta
até para reparar no íngreme e rígido equilíbrio
do teu trono, hás-de ver a forte distorção
          dos sonhos suicidas
                    passar
cambaleante em sua direcção e com o bico
atacar a sua própria identidade, até
          o inimigo parecer amigo e o amigo parecer
                    inimigo.


(in Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop, tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Campo das Letras, 1999 – colecção Aprendiz de Feiticeiro)

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