20.2.12


EDMOND JABÈS


A MÁSCARA E OS DIAS

I

Não se constrói sobre a pedra côncava. (Ainda menos sobre a neve dos picos?)
As recordações vêm aumentar o seu poder sobre o homem à medida que o objectivo se esfuma.
(Muralhas de sempiternas manifestações de força. Basta a obstinação de uma lágrima, basta um nada de ar decidido para que o ferimento seja mortal.)
Amanhã é o dia dos ladrões.
Dos nossos múltiplos rostos, o único persiste; rochedo onde se apoia a fadiga do mar.

II

O porto mantém a sua palavra. (Manterá o cinto dos afogados?)
Na beira do abismo, cintilante coroa de exílio.
Os mortos participam connosco na eclosão dos enigmas em garfo que arranham o espaço.


(in A obscura Palavra do Deserto – Uma Antologia, selecção e tradução de Pedro Tamen, livros Cotovia, 1991 – original de Je Bâtis ma Demeure, 1959)

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