EDMOND JABÈS
A MÁSCARA E OS DIAS
I
Não se constrói sobre a pedra côncava. (Ainda menos sobre a
neve dos picos?)
As recordações vêm aumentar o seu poder sobre o homem à
medida que o objectivo se esfuma.
(Muralhas de sempiternas manifestações de força. Basta a
obstinação de uma lágrima, basta um nada de ar decidido para que o ferimento
seja mortal.)
Amanhã é o dia dos ladrões.
Dos nossos múltiplos rostos, o único persiste; rochedo onde
se apoia a fadiga do mar.
II
O porto mantém a sua palavra. (Manterá o cinto dos afogados?)
Na beira do abismo, cintilante coroa de exílio.
Os mortos participam connosco na eclosão dos enigmas em
garfo que arranham o espaço.
(in A obscura Palavra do Deserto – Uma Antologia, selecção e
tradução de Pedro Tamen, livros Cotovia, 1991 – original de Je Bâtis ma
Demeure, 1959)
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