25.11.13

JOSÉ CARLOS SOARES


Vestes de branco, atravessas um campo de girassóis. Dezembro
é um mês longínquo. Espero-te, algumas murchas
flores na mão que hão-de abrir-se, se
na água de tua boca. Com a fadiga de quem pudera
descobrir-se, sentas-te a meu lado e dormes no meu ombro.
O árido deserto, minha morada, lentamente vai
sorvendo o branco. E a noite cai.
Lembro batalhas ganhas
e, quando acordas, convido-te
à viagem. Sonho, encontro, iniciação, eis
a chave para a vida eterna. Trocamos de água, sementes,
sossegados caminhamos para as árvores. Tantos
os pássaros, dizes, como podem
estas coisas acontecer? Estão ao teu serviço, proponho,
e logo alças voo e te despedes.

Passaram-se três noites em que fiquei ocupado
de mim mesmo. Cantou o galo, uma serpente
visitou-me meiga, mesmo um pastor
se abeirou de mim. Mantive-me quieto. Tentava
descobrir em que morada passaras já
a ser. Foi então que murmurei: ele
é meu amigo e tenho que visitá-lo.
Passado algum tempo, expirei.



(in Amor Luxúria e Morte, Mirto, 1987)

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