25.1.14

[Mindelo, 22.Setembro.1922 - 24.Janeiro.2014]

AGUINALDO FONSECA


ESTIAGEM

Esta secura calada na garganta
não sei bem se veio do vento
ou das entranhas do inferno.

Este horizonte estreito
a estrangular distâncias e esperanças
não sei se é feito de sangue
ou de poeira vermelha.

(Oh! que desejo de uma carícia
de sombra fresca
de verdes ramos
e rochas húmidas)!

Será que perdi a voz
neste mar de sol
onde a paisagem é figura desfocada?

Se grito
o grito em mim persiste a esbracejar
porque não sai
do poço desta angústia amordaçada.



(in «Claridade», n.º 8, 1958)


PELA ESTRADA LONGA DA MINHA ESPERANÇA...

De cabelo ao vento,
Pela estrada longa da minha esperança,
Vou marchando sempre,
Ao compasso quente do meu coração.

Vou de mãos vazias, vou de lábios secos.
Pela estrada longa da minha esperança
Vou colhendo tudo e vou deixando tudo.

Dias, meses, anos, vou-os sepultando
Sob a estrada longa da minha esperança.

Olham para mim
E gritam com sarcasmo:
— Por que vais marchando, por que vais sorrindo?
Que mistério é esse que te acena ao longe?

Vão caindo folhas...
Frios ventos uivam
Pelo descampado...



(de Linha do horizonte, 1951)

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