ANTÓNIO RAMOS ROSA
Mil cores, e uma sombra só te despe.
Substância perfeita da sombra mais feliz.
Substância ardente e diamante firme.
Água feliz do corpo, água de mil sombras,
e esta é a mais fresca, onde o cavalo bebe
sobre os teus seios tão altos como as chamas mais verdes.
O teu vestido de sombras torna cálido o corpo
e as sílabas do cavalo refrescam-se no mar.
Na praia mais selvagem caminha esse cavalo
que nos transforma o corpo e nos abre a face
mais escura da terra. E todo o mundo aceso.
(de Ciclo do Cavalo, Limiar, 1975)
JAIME ROCHA
VARIAÇÃO SOBRE POEMA 26 DO CICLO DO CAVALO
da água, pelas suas ranhuras, pelo segredo
que se esconde nas conchas.
Falo de um corpo feliz, dos despojos de
um barco na sombra, de uma lua azul que
vem beber com os pássaros e transforma
as pedras num autêntico abismo.
É um cavalo com as armaduras inclinadas
para o vento, para o teu rosto, acrescentando
à pintura uma luz devoradora.
Um cavalo que percorre o espaço aberto da
areia como se investisse contra uma paisagem
de mármore e nela encontrasse o teu corpo frio,
uma mulher febril com os braços pendurados
na madeira.
O cavalo e a mulher debatem-se com as ondas,
perdem-se no tempo. Ele esmagando-lhe o
peito com os cascos, ela cegando-o com as mãos
como se pertencessem a uma deusa de vidro.
Ambos, ela e o cavalo, despidos sob uma lâmpada,
dançam no silêncio. É a terra que se abre para eles,
a terra escura, o pensamento.
(de Lâmina, Língua Morta, 2014)
Mil cores, e uma sombra só te despe.
Substância perfeita da sombra mais feliz.
Substância ardente e diamante firme.
Água feliz do corpo, água de mil sombras,
e esta é a mais fresca, onde o cavalo bebe
sobre os teus seios tão altos como as chamas mais verdes.
O teu vestido de sombras torna cálido o corpo
e as sílabas do cavalo refrescam-se no mar.
Na praia mais selvagem caminha esse cavalo
que nos transforma o corpo e nos abre a face
mais escura da terra. E todo o mundo aceso.
(de Ciclo do Cavalo, Limiar, 1975)
JAIME ROCHA
VARIAÇÃO SOBRE POEMA 26 DO CICLO DO CAVALO
Para o António Ramos RosaUm cavalo desce pelo corpo danificado
da água, pelas suas ranhuras, pelo segredo
que se esconde nas conchas.
Falo de um corpo feliz, dos despojos de
um barco na sombra, de uma lua azul que
vem beber com os pássaros e transforma
as pedras num autêntico abismo.
É um cavalo com as armaduras inclinadas
para o vento, para o teu rosto, acrescentando
à pintura uma luz devoradora.
Um cavalo que percorre o espaço aberto da
areia como se investisse contra uma paisagem
de mármore e nela encontrasse o teu corpo frio,
uma mulher febril com os braços pendurados
na madeira.
O cavalo e a mulher debatem-se com as ondas,
perdem-se no tempo. Ele esmagando-lhe o
peito com os cascos, ela cegando-o com as mãos
como se pertencessem a uma deusa de vidro.
Ambos, ela e o cavalo, despidos sob uma lâmpada,
dançam no silêncio. É a terra que se abre para eles,
a terra escura, o pensamento.
Lisboa, 2007
(de Lâmina, Língua Morta, 2014)
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