6.4.14

AL BERTO


LÁZARO

é tempo de simulares a ressurreição

ergue-te da eternidade dos astros
escava nas veias três dias mortas
o sonho
e no fundo do espelho respira alegria
sobre o rosto escuro como um mingrólio
acende-te
na humidade sonolenta das mãos
finge a vida
mesmo que permaneças morto
bebe
a perene memória das imagens

levanta-te de mim lázaro
como se fosses água ainda turva
sublima-te com o delicado fulgor da respiração
e não regresses mais à desolação da terra
nem ao contínuo movimento falso
do coração


(da sequência "Sete Poemas do Regresso de Lázaro", in O Medo, Assírio Alvim, 1997 - originalmente em A noite progride puxada à sirga, 1987)

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