5.4.14

NUNO MOURA


REPETE-SE, A TUA SOMBRA

Quase enorme o lanho da vacina
na régua das datas memoriais,
a bombazina das artérias
por te bombearem tantas vezes
ao moinho do cérebro.

Que há disto, da constante abébia
ao teu riso manageiro contagiante dos estalos
da demência na copa dos músculos,
que há da chaga das campainhas em florete
nas gengivas à pronúncia do teu nome,
do arranho do escopro que fofo te vai espetando
no croché das vontades de ti,
um atropelo.

Resinoso, colo-me plural todo língua
na paisagem dormente da divisória onde
das regueiras de um golfo cairá primeiro um atilho
que enforco à cintura para poderes puxar, depois um besunto
de tinta-da-china que me encara a frente e a cruz dos braços
para que o holofote que trago dentro não te indisponha
e tu correria amena, minha sombra única,
meu el-rei, meu legado, meu perímetro
apagado de carne,

eu caio assim.


(de Soluções do Problema Anterior, &etc, 1996)

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