ABDEL KARIM AKKUM
Poeta algeriano, nascido em 1915 e morto no decurso da revolução em 1959. a sua poesia tem um recorte clássico e versa, além dos trágicos acontecimentos da sua época, temas de meditação sobre a Natureza (o Livro de Deus escrito no visível).
Escolhemos este poema de Abdel Karim, mártir do colonialismo de outrora, em homenagem aos mártires de agora, vítimas de uma minoria de algerianos, que se afastou do Islame e tenta manter, a preço de morte e encarceramento, esquemas políticos e sociais, importados da Europa e em tudo estranhos e adversos à tradicional cultura islâmica do país.
O OCEANO
Eis-me na tua companhia. Diálogo deslumbrante.
Ó oceano! escuta bem este meu canto!
Nós somos dois a misturar os nossos ritmos harmoniosos.
Na vastidão desértica da vida árida
Só tu és meu amigo.
Bastou-me contemplar tua beleza
E logo minha alma triste se alegrou.
E mais do que a presença d'amigos dilectos
Tua presença a solidão preenche nos meus pensamentos.
Tu existes, sim, tu existes, e tal não é suficiente
Para desvanecer, da minha vida, a angústia?
Dize-me, há em ti remédio para as minha feridas?
É em ti que reside a liberdade fora do obscuro?
Ou, por outra, será que tu e eu estamos ambos ligados
À fatal alternância do dia e da noite?
Hoje, ficarei junto de ti até anoitecer.
Eis que te trago a minha esperança, peço-te protecção.
Eu canto o grande movimento da tua música, o espectáculo
Eterno d'altas vagas que se quebram e, muito ao longe, o teu eco legião.
Da beleza tu foste, para nós, o receptáculo. Desde então,
Sem cessar, proclamamos o teu nome.
Tu és eternamente o mistério genitor
D'orgulho e da grandeza.
Harpa de majestade, ó esplendor que explodes,
Meu canto esgota-se ao contacto dos teus sons!
Fonte viva de água vívida, onde a inspiração vem beber os versos,
Fonte fecunda e fixa além d'imensidão,
Tu repousas em paz, quando o vento amaina a sua rápida loucura,
Ou abrasada em fogo, a falar em chamas,
Tu não temes o vento, quando ele ribomba
Como um trovão por sobre a tua espuma,
Quando as nuvens são almofadas pretas a tapar o horizonte
E quando a noite circunscreve a matéria viva à sua face.
Mas, onda após onda, cais enamorado das raparigas
Belas, nuas, de seios rutilantes como estrelas cadentes
No azulíssimo cerúleo da tua água salgada.
Com a tua beleza se enfeitam e paramentam os seios.
Sobre ti, se debruçam, espelho mágico,
Onde cintila, em colares infinitos, o mar dos seixos rolados.
(Versão de Muhammad Abdur Rashid Barahona)
(Apresentação do Autor e poema publicados em O Selo - Revista de Cultura Islâmica e Universal nº 2, 11 de Julho 1993 / 21 de Muharram 1414)
POEMS FROM THE PORTUGUESE
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