21.3.04

[deste dia da poesia fica um soneto feito em colaboração]

Reparo nas tuas mãos profundas de violência
em contraste com as superfícies frias dos teus versos
lembro os dias lúcidos da sabedoria e a penumbra
o assombro depois dos silêncios mais tardios

Reparo no som das ondas quando chegam às rochas
em como as palavras não evitam a paisagem
ao desfazerem-se em dispersão líquida
(se me atingem os lábios os hábitos do desassossego)

Reparo no sono dourado dos que passam de noite
e na distância intacta que levamos entre os quatro pés
porque se repetem fluidos pela calçada os nomes
das estátuas e das flores que matas pela primavera

Durmo devagar nos terrenos da solidão repetida
mas adivinhas gumes e medos como na primeira vez

(Sandra Costa e Rui Almeida)

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