[SONETOS À SEXTA-FEIRA]
LUIS DE GONGÓRA
De una dama que, quitándose una sortija, se picó con un alfiler
Prisión del nácar era articulado
(de mi firmeza un émulo luciente)
un dïamante, ingenïosamente
en oro también él aprisionado.
Clori, pues, que su dedo apremïado
de metal, aun precioso, no consiente,
gallarda un día, sobre impacïente,
lo redimió del vínculo dorado.
Mas, ay, que insidïoso latón breve
en los cristales de su bella mano
sacrílego divina sangre bebe:
púrpura ilustró menos indïano
marfil; invidïosa, sobre nieve
claveles deshojó la Aurora en vano.
[1620]
SOBRE UMA DAMA QUE, AO TIRAR UM ANEL, SE PICOU NUM ALFINETE
Grilhão do nácar era articulado,
de eu ser tão firme imitador luzente,
um diamante, engenhosamente
em ouro também ele encarcerado.
Clóris, porém, que seu dedo apertado
por metal mesmo raro não consente,
briosa um dia, além de impaciente,
resgatou-o do vínculo dourado.
Mas, ai, um insidioso latão breve
nesses cristais de sua bela mão
sacrílego, divino sangue bebe:
púrpura não pôs tanta ilustração
no marfim; e, invejosa, sobre neve
cravos desfolhou a Aurora em vão.
De un caminante enfermo que se enamoró donde fue hospedado
Descaminado, enfermo, peregrino,
en tenebrosa noche, con pie incierto
la confusión pisando del desierto,
voces en vano dio, pasos sin tino.
Repetido latir, si no vecino,
distinto, oyó de can siempre despierto,
y en pastoral albergue mal cubierto,
piedad halló, si no halló camino.
Salió el Sol, y entre armiños escondida,
soñolienta beldad con dulce saña
salteó al no bien sano pasajero.
Pagará el hospedaje con la vida;
más le valiera errar en la montaña
que morir de la suerte que yo muero.
[1594]
SOBRE UM CAMINHANTE DOENTE QUE SE ENAMOROU ONDE FOI HOSPEDADO
Transviado, enfermos, peregrino
em tenebrosa noite, o pé incerto
a confusão pisando do deserto,
em vão gritou e caminhou sem tino.
Um ladrar repetido, não vizinho,
claramente ouviu de um cão desperto,
e em pastoril albergue mal coberto
a piedade achou mas não caminho.
Veio o Sol, em arminhos escondida
sonolenta beldade em doce sanha
o malsão passageiro acometeu.
A hospedagem pagará co'a vida;
mais lhe valerá errar pela montanha,
do que morrer da mesma sorte que eu.
Inscripción para el sepulcro de Domínico Greco
Esta en forma elegante, oh peregrino,
de pórfido luciente dura llave,
el pincel niega al mundo más süave,
que dio espíritu a leño, vida a lino.
Su nombre, aún de mayor aliento dino
que en los clarines de la Fama cabe,
el campo ilustra de ese mármol grave;
venéralo y prosigue tu camino.
Yace el Griego. Heredó Naturaleza
Arte; y el Arte, estudio. Iris, colores.
Febo, luces (si no sombras, Morfeo).
Tanta urna, a pesar de su dureza,
lágrimas beba, y cuantos suda olores
corteza funeral de árbol sabeo.
[1614]
INSCRIÇÃO PARA O SEPULCRO DE EL GRECO
Em esta forma elegante, oh peregrino,
de pórfiro luzente dura chave,
o pincel nega ao mundo mais suave,
que deu espír'to ao lenho, vida ao linho.
Pra seu nome é alento inda mesquinho
tudo o que nos clarins da Fama cabe;
o campo ilustra desse mármore grave.
Venera-o e prossegue o teu caminho.
Jaz o Grego. Herdou a Natureza
Arte; e a Arte, estudo; Íris, cores;
Febo, luzes; se não sombras, Morfeu.
Tanta una, mesmo com sua dureza,
lágrimas beba, e quantos sua olores
fúnebre casca do tronco sabeu.
Cosas, Celalba mía, he visto extrañas:
cascarse nubes, desbocarse vientos,
altas torres besar sus fundamentos,
y vomitar la tierra sus entrañas;
duras puentes romper, cual tiernas cañas,
arroyos prodigiosos, ríos violentos,
mal vadeados de los pensamientos,
y enfrenados peor de las montañas;
los días de Noé, gentes subidas
en los más altos pinos levantados,
en las robustas hayas más crecidas.
Pastores, perros, chozas y ganados
sobre las aguas vi, sin forma y vidas,
y nada temí más que mis cuidados.
[1596]
Coisas, Celalba, tenho visto estranhas:
rasgar-se nuvens, desfrear-se ventos,
altas torres beijar seus fundamentos
e a terra vomitar suas entranhas;
duras pontes quebrar, qual tenras canas;
regatos raros, rios violentos,
mal vadeados pelos pensamentos
e travados pior pelas montanhas;
nos dias de Noé, gentes subidas
nos mais altos pinheiros levantados,
nas robustas faias mais crescidas.
Pastores, cães, choupanas, muitos gados
vi sobre as águas, já sem forma e vidas,
e nada temi mais que meus cuidados.
(traduções de José Bento)
A «DANA» de que se fala
Há 1 hora
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