ANTÓNIO CABRITA
d)
Quantas vezes este mesmo verso
a expensas ainda da bebedeira
de sábado te pôs a tiracolo? Abcissas
e ordenadas, o débil rogo do epos:
no decurso de uma velha adição
és por tudo experimentado enquanto
uma barcaça de ossos recolhe pálpebras
caídas, dedos benévolos, privados
orifícios, que singram ufanos na tua sombra.
Mas à beira da cama comum quem te vale
n'aflição? Olha o Horácio, lixado
com as fibras ópticas o MTV a CNN
e as imagens digitais que rematam
em relinchos a franca fisicalidade do homem.
Pobre Inominado à mercê de uma tecla,
na Internet, grisalho como certas línguas
em desuso. A escâncaras não mas
talvez ainda uma réstia de temas líricos
(dissertar sobre o ching-shi na dinastia
Ching - dum tal pai dignos bastardos!)
nos desembarque, ó ilustres nautas,
numa baía de céu pneumático, dominical
e suburbano. Porque insular, o dom,
vem ainda desanuviar à mão, sagrar portos.
E em domicílio tão incerto quem mais
nos defenderia da massa amorfa preventiva
que odeia Quiron e divide enumera
quantifica, tomando por receitas as exéquias
de Ulisses? é já segunda-feira, o verso claudica
com o peso do homem mas à ré ainda o vejo
ao leme. Contraria a volúvel disposição
do poeta, porfia na treva: «A meio
caminho da nossa vida encontrei-me...»
(excerto do poema I BEG YOUR PARDON! / Passeios em Dante, incluído em Arte Negra, Fenda edições, 2000)
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