11.7.05

JUAN GÓMEZ CASAS

- Rio-me quando os senhores que escrevem novelas fazem os seus personagens passar fome, enquanto que eles vivem no melhor conforto e fartura nas suas casas. Rio-me por isto: que saberão eles da fome? Que saberão eles no que se passa nas tripas vazias do faminto, os seus desconfortos, dos quais há toda uma variedade, das suas reacções ou das chispas que a fome dá aos seus pensamentos? Digo-lhes que esses indivíduos que escrevem são todos ignorantes - fez uma pausa, durante a qual agarrou num passarito que saltitava no pescoço. Deu-lhe de comer, estendeu-lhe a mão. Passeou um olhar pelo grupo que o rodeava -. Um dia escreverei qualquer coisa - disse. Qualquer coisa que assombrará e envergonhará muita gente.

(excerto do conto O Homenzinho dos Pássaros, incluído em Histórias do Cárcere, tradução de José Rolim, Cadernos Peninsulares, 1970)

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