17.11.05

[outros melros XXXI]

RUI COIAS

21.


Vejo com os olhos de deus.
Adormeço como ele sobre as paisagens.
Dispus cuidadosamente o sangue pelas areias,
ao dobrar o cabo dos anos, calei-me.
Ficarei de fora olhando avida em
horas mortas
como as crisálidas que abrem nos fios de água.
O tempo vai esmorecendo nas pobres vozes,
é uma terra parada a que nos deixa a descobrir.
E deus cala-se a meu lado, adormecido
como o melro docemente tranquilo.

(de A Função do Geógrafo, edições Quasi, 2000 - Biblioteca uma existência de papel)

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