3.3.06

[para uma antologia de bicicletas - 3]

HEINRICH BÖLL

IX


Sim, também a escola. Apertou o frio, a rigidez, também sob o ponto de vista económico, e vivíamos ao encontro da guerra. Restava muita coisa: a lealdade dos pais e dos irmãos, dos amigos, também dos que há muito estavam integrados em organizações nazis - restava a bicicleta, insubstituível, quase sagrada, esse elegante veiculo de mobilidade, companheiro da fuga, de fácil construção, digno de muitos hinos e - como se verificou o mais tardar em 1945 - o único meio de movimentação mecânico, mas valioso e de confiança. Do que não precisa um automóvel? É pesado, bem vistas as coisas, dependente de mil e uma ninharias, já para não falar da gasolina, das estradas. Onde é que se consegue ir com uma bicicleta - e que ninguém esqueça: a guerra do Vietname foi ganha com bicicletas contra tanques e aviões. Remendos, bomba de ar, luz - bagagem leve, quase nenhuma - e o que é que não se pode pôr em cima de uma bicicleta, carregando-a bem?
[...]

(excerto de O que é que vai ser do rapaz?, tradução de Maria Adélia Silva Melo, Difel, 1987)

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