26.3.07

[Salazar e a Poesia - I]

FERNANDO PESSOA

SALAZAR


António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António
Oliveira é uma árvore
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

……………………………………

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal
E sob o céu
Fica só azar, é natural.

Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

……………………………………

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho
Nem até
Café.

(sequência datada de 29 de Março de 1935, publicada pela primeira vez, enviada por Jorge de Sena, em O Estado de São Paulo, na edição de 20 de Agosto de 1960)

1 comentário:

Debaixo do Bulcão disse...

Eu sei que é banal, mas o único comentário que me apetece fazer é:

LINDO!