12.2.08

[Pretendo continuar #3. Novena de desagravo.]

GOETHE

V


Amantes piedosos somos, em silêncio veneramos todos os demónios,
Desejamos cada deus, cada deusa como amigos.
E assim nos assemelhamos a vós, ó Romanos triunfadores!,
Que aos Deuses de todo o mundo ofereceis domicílio –
Esculpidos pelo Egípcio em escuro e sóbrio granito
Ou pelo Grego em mármore branco e gracioso.
Mas não se zanguem os Eternos se vertemos
O precioso incenso a uma das Divinas em especial.
Sim, confessamos oferecer as nossas preces
E o nosso rito diário em particular a uma delas.
Jocosos, alegres e dedicados, celebramos secretas festas
E o silêncio convém a todos os iniciados.
Antes desafiar de perto as Erínias com feitos medonhos,
Antes arriscar sofrer o duro julgamento
De Zeus, as suas rodas e rochedos,
Do que privar o nosso espírito do rito delicioso.
Ocasião se chama deusa! Conhecei-a,
E amiúde vos surgirá ela com variadas feições.
Podia ser filha de Proteu, gerada por Tétis,
Cuja astúcia muitos heróis enganou.
Assim engana agora a filha o inexperiente e o tímido,
Troça do sonolento, esquiva-se ao vigilante.
Com prazer se entrega ao ousado,
Que a encontra mansa, brincalhona, terna e dedicada.
Certa vez também a mim apareceu: Uma rapariga morena,
Cabelos longos e escuros cobriam-lhe a testa,
Pequenos caracóis o gracioso pescoço
E as madeixas soltavam-se frisadas na nuca.
Não a ignorei, agarrei a fugitiva, e docilmente
Logo ela me devolveu o terno beijo e o abraço.
Oh, como me senti feliz! Mas silêncio, o tempo passou,
Agora sois vós, loiras tranças, que como correias romanas me prendeis.

(de Erotica romana, tradução de Manuel Malzbender, Cavalo de Ferro editores, 2005)

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