16.2.08

[Pretendo continuar #7. Morada nova, mas já agora completa-se a novena.]

SEAMUS HEANEY

RAPARIGAS NO BANHO, GALWAY, 1965


Bóiam na espuma da ondulação, avançam
em roda catarina, braços, mãos;
nítidas como bolas, as cabeças balançam.
Aqui na praia os guinchos ficam vãos.

Nenhuma Vénus foi milagre estranho
de lácteos membros na costa ocidental.
Uma rainha pirata em fato de banho
é o nosso mito forte. As ondas por sinal

vazam umas nas outras e cada ano adeja
invisível pelo espaço a viajar.
Onde as cristas se desfraldam como espuma de cerveja
a roupa da rainha já se desfez no mar.

E gerações que têm suspirado
nos renques de sal onde a onda explodiu
vivem no medo da carne e do pecado
porque o tempo se cumpriu,

como onde há pé nos seus trajes sucintos,
pernas nuas, ombros suaves, costas em maré-viva,
chapinham até à praia, aos pulos, dando gritos.
E Vénus vem assim, objectiva.

(de Antologia Poética, selecção e tradução de Vasco Graça Moura, Campo das Letras, 1998 – original de Door into the Dark, 1969)

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