CARLO VITTORIO CATTANEO
Herberto
_______sobre uma pista de raízes queimadas nas cavernas
do metropolitano tenteaste os degraus
onde as grandes
flores da loucura emudeciam – a cada passo a casa
erguia-se tecendo tramas de corredores
no frio de quartos e janelas
escancaradas à negra fixidez dos sóis
entre os espelhos roídos pelos ventos de uma europa
que talvez fosse só juventude (o que mora
no alto é igual
ao que em baixo mora) – porém na confusa
medianidade da visão está o tributo
a cada conhecimento se se fecha o nó da dupla
solidão e cegos então cada coisa nos revela
o avesso como quando uma criança a ama
com o terror
que transforma a inocência em alegria
_______________________________quando o desconhecido
te invade os dias Herberto esquece o seu nome a comovida
obscuridade da mulher e os rostos cruzarão
sorrisos e ansiedade na rua de repente indecifráveis
porque o desconhecido é um muro onde não se filtra o amor
nem a ferocidade dos gestos quotidianos (como
um círculo de beleza em expansão uma luz que plasma
desertos onde pousa) e é festa de espinhos
um incêndio sacral assinalando a tua viagem com as cifras
menstruais já fim de uma infância perseguida
pelas visões – quem parte
deixa o corpo e entreabre a porta sobre as paisagens de sombra
até que se encante no ritmo a loucura encontrando
voz em cada meandro das fontes no meio das folhas
com olhos maternos de terra e os ossos se vistam
de um sólido nevoeiro porque a morte é uma ponte
batida pelos passos de quem ousou conhecer tensa para unir
a ferida de abismo que nos lacera por dentro (sem memória
de uma outra idade quando as mãos criavam palavras
para cada coisa desentranhada do silêncio de um tempo
ainda imóvel)
___________Herberto morremos e renascemos sós
não há companheiro que te possa vigiar o caminho
se o sono é um emaranhado de sarças pedras e vozes
enganadoras nem a mulher saberá decifrar os triunfos
da derrota – o viajante
estrangeiro voltará por entre os nomes esvaziados de cada vida
terá sílabas acesas por uma pasmada ternura
mas ninguém o escuta (o medo fecha
ao imprevisto as fendas mais secretas) e então surge
dura de ansioso amor a nova solidão e ao alto
dentro da casa irrompe como um vento a poesia
Roma, 1981
(de Três Solidões, versão portuguesa de “ilustres amigos” sobre uma tradução literal do Autor, Contexto, editora, 1982 – Cábulas de Navegação)
POEMS FROM THE PORTUGUESE
Há 2 horas
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