26.4.09

JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE

[excerto de] FLOR DA ROSA

Na passagem do século XIII para o século XIV, D. Gonçalo Pereira teve filhos e filhas que não interessam para a chegada, até nós, da fundação do mosteiro da Flor da Rosa. Mas houve um filho que teve o seu exacto nome, Gonçalo Pereira, e que foi arcebispo de Braga. Este arcebispo um outro filho teve, Dom frei Álvaro Gonçalves Pereira, que foi prior do Hospital e que depois de ter vivido na sede da sua ordem, na ilha de Rodes, viria a erguer a igreja de Santa Maria da Flor da Rosa. Igreja, mosteiro e fortaleza ficam nas proximidades do Crato. Entre filhos e filhas, em número superior a trinta, ele seria o pai de D. Nuno Álvares Pereira, segundo o capítulo inicial da «Coronica do Condestabre».
(…)

(in A Flor da Rosa, Relógio d’Água editores, 2000)



MÁRIO BEIRÃO

NUN'ÁLVARES


Senhor! Por mim, teu espírito visita
O Reino onde servi como soldado,
Por ti, meu coração alevantado,
Por ti, este burel de carmelita!

A humilde cela que o teu filho habita
É um cárcere de lágrimas banhado;
Condoa-se do olhar do emparedado,
A luz desses teus olhos, infinita!

Senhor, perdoa ao monge arrependido
Se ainda não mereço a tua dor,
Reduz-me à escuridão do eterno olvido!

Soberbo eu fui, perdoa ao vencedor,
Ao vencedor dos homens, - o vencido
Por teu pranto humaníssimo, Senhor!

(de Lusitânia, 1917 / 2ª edição: Livraria Tavares Martins, 1964)



ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA

EXORTAÇÃO FRENTE À ESTÁTUA DO CONDESTÁVEL NA BATALHA



Para Mário Saraiva


Cavalga no bronze da glória
À ilharga do túmulo real,
Aqui, onde ficou, em pedra e fé, memória
Da mais vital vitória
De Portugal.

E ergue a espada nua. (Em certo dia
Bastara meia espada
Para enfrentar a cobardia
E vencer a batalha antes de começada.)

E o peito ovante oculta, floreada,
A cruz do seu brasão:
Como a sua alma e coração (branca e encarnada),
É divina divisa devotada
Ao Mestre, ao Rei e ao Irmão.

E olha o céu, caminho seu, seguro,
Pois sabe que no céu tudo se escoa
E Deus é sempre o futuro,
O último senhor do ceptro e da coroa.

Ó português que passas, indiferente,
Frente à estátua do Santo, do Herói:
Não te dói o presente?
A tua pátria doente
Não te dói?

Não sentes o desejo, o ímpeto de orar
Àquele que nos foi o salvador;
Pedir-lhe para regressar,
Formar quadrado contra o agressor?

De ter de novo como Capitão,
Por Deus e Pátria e Rei, o Herói, o Santo?
E de poder dizer altivamente não,
Seguindo o seu pendão,
Onde arde a esperança que perdeste há tanto?

Ah, se não queres marchar, em som de guerra,
Tal como ele, por um ideal,
É que não vale a pena o sangue, a terra,
E morre Portugal.

(de Estado Estacionário, edições Cultura Monárquica, 1988)

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