29.4.09

[Quis o acaso que eu lesse este poema a bordo do autocarro suburbano, quando subia (ronceiramente) do viaduto Duarte Pacheco para Monsanto. Nunca tinha sentido tão explicitamente que ler um texto é, também (sempre?), fazer o percurso inverso àquele que o Autor fez.]

JOSÉ MÁRIO SILVA

citröen 2 cv


Para o João Almeida

Na descida de Monsanto
para o viaduto Duarte
Pacheco, o ponteiro
da velocidade desaparecia
completam ente, perdido
para lá da marca laranja
dos 120 quilómetros por hora.
O carro trepidava e tudo à nossa
volta – o motor em alta rotação,
as estrelas através da capota aberta,
a silhueta de Lisboa, as infinitas
bifurcações da juventude - tudo
à nossa volta era uma vertigem.

(de Luz Indecisa, Oceanos, 2009)

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