DAVID MESTRE
GEOPOLÍTICA DO MEDO
À frente da história seguem os heróis
os santos e os poetas. E os que sobram
da provada culpa do vento, marinheiros
de cana rapados à venérea idade
do mar. E os que viemos depois
na cauda do açoite
mover os braços reter o corpo
para cá da barra, e a voz
de piratas trincados pela raiz.
Daqui nos damos notícia, corsários
do medo auriculado na gengiva
dos séculos. E dos que partiram
sem barco de feição ou anel
para os dedos abertos no pródigo mês
da idade.
Já nada nos destrói. Nem a lágrima
encalhada na dentícula vegetal para o amor.
Nem ela.
(de Do Canto à Idade, Centelha, 1977 – Poesia Nosso Tempo)
Luzes
Há 3 horas
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