28.7.09

DAVID MESTRE

GEOPOLÍTICA DO MEDO


À frente da história seguem os heróis
os santos e os poetas. E os que sobram
da provada culpa do vento, marinheiros
de cana rapados à venérea idade
do mar. E os que viemos depois
na cauda do açoite

mover os braços reter o corpo
para cá da barra, e a voz
de piratas trincados pela raiz.

Daqui nos damos notícia, corsários
do medo auriculado na gengiva
dos séculos. E dos que partiram
sem barco de feição ou anel
para os dedos abertos no pródigo mês
da idade.

Já nada nos destrói. Nem a lágrima
encalhada na dentícula vegetal para o amor.
Nem ela.

(de Do Canto à Idade, Centelha, 1977 – Poesia Nosso Tempo)

Sem comentários: