A BELEZA DAS PEDRAS
Os Japoneses, admiradores por excelência de todos os aspectos da criação, mesmo nos seus detalhes mais miúdos, revelam um gosto estético supremo para ajuizarem da beleza de um pedra, pequena ou grande, pois são de somenos importância as dimensões.
Apresenta-se, mostra-se a um japonês um pedregulho. Olha-o, fita-o, estuda-o. Para ele, o pedregulho tem feições, fisionomia individual, implicando a ideia de atributos sentimentais, pois há pedras tristes, pois há pedras sorridentes, pois há pedras amigas, pois há pedras arrogantes: cada pedra tem o seu carácter, talvez pudesse dizer: — a sua alma. — Pois nada disto escapa ao japonês, no seu exame do exemplar que tem em vista. Se convém dar colocação ao pedregulho, seja na sala de visitas, sobre uma prancha de charão, seja no chão de um jardim, entre plantas, não hesitará o japonês em distinguir-lhe a face anterior, e a face posterior, e a parte superior e a parte inferior, não cometendo a irreverência de pousá-lo numa posição ridícula, ou inconveniente, ou contrária às leis da estética, de cabeça para baixo, e pernas para o ar, por exemplo... se a frase aqui é permitida, tratando-se de um pedaço de rocha bruta, ao qual nós, loiros da Europa, não concedemos o direito de ter cabeça e de ter pés. No entretanto, entre japoneses, as coisas passam-se de uma maneira diferente.
(O Bon-Odori em Tokushima, 71-72.)
(in Antologias Universais: Wenceslau de Moraes, Selecção de textos e introdução de Armando Martins Janeira, Portugália editora, 1971)
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