JOÃO RUI DE SOUSA
RUMOROSAS VOZES
Rumorosas vozes vinham
e depois paravam.
Talvez fossem só lágrimas caindo.
Talvez campos de sal que nos desciam
desde um horizonte de clausura
até às pálpebras:
para mostrarem como a vida estala
quando a alegria morre ou não cintila
em braços esplendorosos, na redondez
de um colo, na casa que é bem nossa
e pousa na cabeça,
e mesmo na grata circunstância
de trabalharmos tanto
no trato de um jardim desordenado
— sem árvores alinhadas nem canteiros,
sem corações opressos
por rectilíneas áleas.
(de Quarteto para as próximas chuvas, publicações Dom Quixote, 2008)
24.6.10
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2 comentários:
Lindo. Excelente escolha.
Beijo.
Sempre me intrigou no João Rui de Sousa o facto de ele conseguir tão bem articular o ser um grande
poeta com aquela imensa discrição que sempre tem... De toda a sua obra tenho pelo "Quarteto para as próximas chuvas" uma admiração (ainda mais) especial. Abrç.
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