[gosto muito de inventários XVII]
ALEXANDRE O'NEILL
INVENTÁRIO
Um ruído de torneiras que pinga
Um gato passeado pelo desejo
Uma esposa coberta de caliça
Um despejo
Um congresso que dorme inaugurado
Uma condessa de sovaco triste
Um excremento muito mal logrado
Um mimo a que ninguém assiste
Um repelente menino Vicente
Posto na vida só p'ra ter juízo
Um incisivo e solitário dente
Carregado de riso
A miúda que vem maneirinha
Ao encontro na Praça do Chil'
E a voar como uma andorinha
Do meu coração o til
Uma d'óculos a olhar de lado e é p'ró pecado
Uma torpe saborosa canção
Um rápido encontro falhado
Um dia de bruços no chão
Um tinto vomitado na areia
Uma nuca rachada pelo sol
Um osso a esperar a maré-cheia
Uma petiza pendurada e mole
Um tartamudo na pior altura
Um soluço através duma ruína
Uma forte implacável dentadura
À dentada subindo pela ravina.
(de No Reino da Dinamarca, 1958)
Sobre Guerra e Paz, de Lev Tolstoi
Há 3 horas
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