MARIANE MOORE
Nasceu no Missouri (EUA) em 1887.
Recebeu vários prémios pela sua Obra de cerca de uma dezena de títulos.
Morreu em 1947.
Valha o que valer, a minha convicção tem-se mantido inalterável ao longo dos últimos catorze anos; consiste ela em que os poemas de Miss Moore fazem parte do exíguo corpo de poesia durável escrita no nosso tempo; desse exíguo corpo de escritos em que, entre tudo aquilo que passa por poesia, uma sensibilidade original e uma inteligência alerta e uma funda compaixão se conjugaram para a preservação da vida na língua Inglesa. (T. S. Eliot, em 1935 - citado por Rui Knopfli)
UMA GARRAFA DE VIDRO SOPRADO EM FORMA DE PEIXE
Aqui nós temos sede
e paciência, desde o primeiro
e arte, como se numa onda imobilizada para podermos
descortinar na sua essencial perpendicularidade;
Não quebradiço mas
intenso - o espectro, esse
espectacular e ligeiro animal o peixe
cujas escamas afastam com seu brilho a espada do sol.
SILÊNCIO
Meu pai costumava dizer:
"As pessoas superiores nunca fazem visitas prolongadas,
têm de a campa de Longfellow
ou as flores de vidro de Harvard.
Auto-suficientes como o gato -
que, pendendo-lhe da boca a cauda do rato
como um atilho bamboleante,
leva a presa para a intimidade -
por vezes apreciam a solitude
e podem ser privadas do discurso
pelo discurso que as deliciara.
Os sentimentos mais profundos manifestam-se sempre
em silêncio;
em silêncio não, mas de novo comedido.
Tão pouco era incincero quando dizia:
"faça de minha casa a sua hospedaria".
Hospedarias não são residências.
NENHUM CISNE TÃO FINO
"Nenhuma água tão tranquila como as
fontes mortas de Versalhes". Nenhum cisne,
de esquivo escuro velado olhar
e pernas gondoleiras, tão delicado
como o de porcelana colorida com
seus olhos castanho-corça e coleira
de ouro denteado para que
saibamos a quem pertencera.
Instalado no candelabro-árvore
Luís Quinze, de cristas-de-galo em botão,
dálias, ouriços-do-mar e sempre-vivas,
pousa nas ramificações alveolares
das flores em brunida
escultura - sobranceiro e alto. O rei morreu.
QUE SÃO ANOS?
Que é a nossa inocência,
que é a nossa culpa? Todos estamos
nus, em segurança ninguém. E donde
vem a coragem: a pergunta em aberto,
a dúvida resoluta, -
mudamente clamando, surdamente ouvindo - que
na desgraça, mesmo na morte,
encoraja os outros
e na derrota, incita
a alma a resistir? Lobriga
longe e é confortado, aquele
que aceita a mortalidade
e na sua clausura se ergue
acima de si próprio como
o mar que lutando para libertar-se
da fenda, e incapaz de fazê-lo,
encontra na capitulação
a sua continuidade.
Assim, o que é animoso,
saberá comportar-se. A própria ave,
engrandecida pelo canto, acena
para o alto o seu perfil. Cativa embora,
o seu poderoso canto nos diz
que coisa banal é a satisfação,
quão pura é a alegria.
Aquilo é mortalidade.
Isto a eternidade.
(traduções de Rui Knopfli, in Caliban 3/4, Junho de 1972 - edição fac-similada: Instituto Camões - Centro Cultural Português de Maputo, 1996?)
A «DANA» de que se fala
Há 25 minutos
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