Cardeal ALEXANDRE DO NASCIMENTO
Nasceu em Malanje, Angola, em 1925.
Ordenado presbítero em 1952 e bispo em 1975.
Foi bispo de Malanje e de Lubango e, desde 1986, é Arcebispo de Luanda, sendo emérito desde 2001.
Foi feito Cardeal em 1983, na sequência do rapto a que foi sujeito no ano anterior.
MAMÁ MUXIMA
Na Polónia florida e na terra dos Bascos
Na terra dos Teutões e na Tíndari dos Sículos,
Na Suíça polida e na Itália gentil,
Em muita outra parte, é pura verdade
Que é como preta que a Virgem veneram.
Bem sei que Murillo o impossível pintou,
E que Velasquez, o divino, de Rafael é rival.
Quem não viu em Madrid, quem não viu em Florença,
Milagres de pintura, assombros de cor?
Mas vê como passa essa turba fastienta
Diante de um retábulo de tanto requinte!
Parece sonâmbula, pensa noutra coisa,
Tem o sorriso frio de gente sabedora:
É gente erudita que leu Kant, conhece Espinosa...
Do que não suspeita, por certo, é que tem
a alma defunta...
Outra coisa é este meu povo, este povo sofredor
Gente do "mato" e do chimbeco em Luanda,
- A Velha Mutudi, a tia Ximinha;
Gente que ri, porque sabe o que é chorar;
Gente que cumprimenta, porque sabe o que é desprezo,
Gente que reza e finge zanga à Senhora.
Mas é certo e seguro, nem posso duvidar
Que tem amor, muito amor consigo esta gente.
Há nela essa fé que o Senhor diz fazedora de milagres.
Entre a Virgem do céu e este povo que sofre
Há funda amizade, há infinda ternura
Por isso eu não me rio, nem estranho sequer
Quando vejo gritar, simular grande zanga
Se tarda o milagre, ó Virgem Senhora!
Elas sabem como tomar-Te, entendem-Te tão bem!
Como roçam as mãos e os rostos também
No Teu manto bendito, bendita Mãe!
Pois é este povo que não estranha
Que sejas branca e também sua Mãe!
Mas sou eu quem Te faz a pergunta:
Porquê és assim?
Preta bem preta, nas terras dos brancos,
Branca bem branca na terra dos pretos!
- Não vês, meu filho, que vos quero lembrar
Que sois todos meus, meus pequeninos?
Assim vos não esqueçais que brancos ou pretos
Tendes a vossa Mãe que também é Morena:
Branca muito branca, na terra dos Pretos,
Preta bem preta, na terra dos Brancos:
O que conta para mim não é a cor,
Basta-me o coração: "Muxima!".
DISCRETA E TERNA
Discreta e terna há-de envolver-me
a luz terna do Teu olhar,
Senhora a Quem tantas vezes eu disse
"Ave Maria, cheia de graça":
que Tua presença me não falte
nessa hora, nesse instante.
És a Virgem fiel - a que mantém as promessas,
por isso, Tu cumprirás a promessa:
cumprirás, porque cá me diz o coração: "Mãe!"
Virás, assim, à beira do meu leito,
ou onde quer que a vida me comece a abandonar,
"Santa Maria, Mãe de Deus".
Olhar vago, talvez ardendo em febre,
talvez então nem de Ti eu me lembre,
ó meu Amor de sempre...
"Rogai por nós, pecadores".
Sei, porém, - mais: tenho a certeza
que foi por minha causa
que o Senhor orou: "Nas Tuas mãos,
Pai, entrego a minha alma..."
Desde então, é certo,
sempre que o poente da vida
crisma a fronte de um homem,
vibra intenso, como no Calvário,
o brado saído do coração de Deus:
"Mulher, aí tens o Teu filho".
Discreta e terna há-de envolver-me
a luz terna do Teu olhar.
Estreitando-me junto ao Teu peito virginal,
dirás então aos Anjos em êxtase:
"Um menino nos acaba de nascer..."
Há-de sorrir Isaías.
E Deus, também.
(de Livro de Ritmos, Gráfica de Coimbra, 1994)
dois docinhos do Xana
Há 10 horas
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