26.1.04

ALEXANDRE O'NEILL

A MORTE, ESSE LUGAR-COMUM...


É trivial a morte e há muito sabe
fazer – e muito a tempo! – o trivial.
Se não fui eu quem veio no jornal,
foi uma tosse a menos na cidade...

A caminho do verme, uma beldade
– não dirias assim, Gomes Leal? –
vai ser coberta pela mesma cal
que tapa a mais imensa fealdade.

Um crocitar de corvo fica bem
neste anúncio de morte para alguém
que não vê n'alheia sorte a própria sorte...

Mas por que não dizer, com maior nojo,
que o menino saiu do imenso bojo
de sua mãe, para esperar a morte?...

(de Abandono Vigiado, 1960)

Sem comentários: