G. K. CHESTERTON
A primeira coisa a notar como típica da tonalidade moderna é um certo efeito de tolerância, que por sua vez é o efeito de uma certa timidez. A liberdade religiosa poderia significar que todos eram livres de discutir sobre religião. Na prática, significa que as pessoas mal se permitem mencioná-la. Há uma outra qualidade, de algum interesse: a de que aqui, como em muitas outras coisas, há uma imensa superioridade intelectual nos pobres e nos ignorantes. Qualquer inquilino da cidade velha gostava da cruz [para monumento de guerra, nas encruzilhadas] porque era cristã, e assim o dizia, ou então não gostava porque lhe cheirava a bispo, e assim o dizia. Mas os chefes do partido anti-papista tinham vergonha de falar no seu anti-papismo. Eles não diziam concretamente que achavam que um crucifixo era uma coisa perversa; mas diziam, com tantos rodeios quantos os necessários, que achavam que a bomba de água da freguesia, ou uma fonte pública, ou um autocarro municipal eram coisas boas.
(da Autobiografia, trad. e notas de Luís de Sousa Costa, Livraria Morais editora, 1960 - Círculo do Humanismo Cristão)
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