MARIA GABRIELA LLANSOL
(excerto de) Intróito
Joana gostava de escultura.
Um velho escultor, amigo do pai, chamado Sitiais, dava-lhe lições nas horas em que, por princípio, nunca criava.
- O artista - dizia ele - precisa de disciplina. Deve lembrar-se que é homem e não esquecer a realidade do seu próprio corpo. a criação sorve-nos como uma bomba esvazia um tanque. Se não podemos ter horas certas para ser artistas devemos, ao menos, ter horas certas para repelir a escravidão da Arte.
- Então a arte é semelhante ao amor - concluiu Joana uma tarde.
- Não ao amor de toda a gente, mas ao amor que és capaz de sentir.
- Já o sentiu assim alguma vez?
- Não, creio que é privilégio único de certas mulheres.
(in Os Pregos na Erva, 1962, 2ª ed: edições Rolim, 1987)
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