14.3.04

RUY CINATTI

GANDHI I


Isto da violência
tem que lhe diga
quando os tais violentos
a negam e julgam.

A justiça impera
na terra, nos céus.
De Deus, a justiça.
Nos homens, a fome.

Gandhi foi, entre outros,
o mor paladino
dos tempos modernos
da justiça e amor.

Vê-lo debruçado
sobre a justa causa.
Ouvi-lo falar
do leite da vaca...

Grandes são os santos,
soldados, poetas.
A nossa derrota,
mas que grande festa!

As chamas alteiam.
Cheira a pau de sândalo.
Sobre Babilónia
as luzes apagam-se.

14/7/83

CONTENCIOSO

Ide, canções minhas, proclamai
o estado de sítio
com reflexos d'água, informais
em papel de seda,
porque não em seda crua?!...

Ela virá então nua
com ademanes fatais,
lembrar que a paz não se alcança
com violência,
corrupção, incompetência
e outras curiosas experiências
habituais no meu país.

O presidente ficará em Belém.
O primeiro ministro reabita Sintra.
Propositadamente,
a bem do cidadão,
criar-se-á o Ministério da Qualidade de Vida
para satisfazer as necessidades
de outro cidadão menos pateta.

Lorpas, imbecis,
farroupilhas, tontos,
que assim deixais à vontade
o desgraçado do poeta!

Reclassificai-o já, baixai-lhe a letra.
Que se reforme ou peça baixa médica!

Ela, entretanto, a mais que bela,
debruçar-se-á da janela
dar-lhe-á a sua bênção.

E vero!

14/7/83

(poemas inéditos, dactilografados e fotocopiados pelo Autor para serem distribuídos na rua ou aos amigos que o visitavam)

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