17.3.04

W. B. YEATS

Nasceu em Geogeville, perto de Dublin, em 1865.
Viajou pelos EUA e pela Itália. Recebeu o Prémio Nobel em 1923.
Morreu em 1939.

ACERCA DE UMA CASA AMEAÇADA PELA AGITAÇÃO DA TERRA

Como seria mais feliz o mundo se esta casa,
Onde paixão e rigor se fundiram em
Tempos imemoriais, em ruínas transformada
Deixasse de criar o olho sem pálpebras que ama o sol?
E os doces e alegres pensamentos de águias que crescem
Onde asas contêm memória de asas, tudo
O que vem do melhor se une ao melhor? Embora
Os pobres pilares mais fortes na queda se tornassem,
Que grande sorte teria de ser a sua para alcançar
Os dons que governam os homens, e mais ainda
O último dom do Tempo sucessivo, discurso escrito
Forjado em alto riso, encanto e paz?

(de The Green Helmet and Other Poems, 1910)

MEDITAÇÃO EM TEMPO DE GUERRA

Numa pulsação de artéria,
Sentado naquela velha pedra cinzenta,
Debaixo da velha árvore quebrada pelo vento,
Soube que o Uno é animado,
A humanidade inanimada fantasia.

(de Michael Robartes and the Dancer, 1921)
(traduções de José Agostinho Baptista, in Uma Antologia, Assírio & Alvim, 1996 - documenta poetica)

SEM SEGUNDA TRÓIA

Não a censuro pelos sofrimentos
De que me encheu a vida, ou por tentar
Levar a turba a gestos tão violentos,
Ou a ruelas contra as ruas atirar
Se o desejo lhes desse o atrevimento.
Não a deixa ser plácida a nobreza
Que lhe apurou, qual fogo, o pensamento,
E o arco tenso que é a tua beleza,
Fora do natural da nossa era,
Por sublime e solitária e austera.
Sendo o que é, que podia ela fazer,
Sem outra Tróia para pôr a arder?

(de The Green Helmet and Other Poems, 1910)

O GRANDE DIA

Viva a revolução e mais tiros de canhão!
Um mendigo a cavalo chicoteia um mendigo a pé.
Viva a revolução o canhão que voltou!
Os mendigos mudam de lugar, o chicote ficou.

O QUE SE PERDEU

Canto o que se perdeu, temo o que se ganhou,
Entro numa batalha uma vez mais travada,
Meu rei um rei perdido, perdidos meus soldados;
Corram os passos para Poente ou Madrugada,
Batem sempre sobre a mesma pedra de nada.

(de Last Poems, 1936-1939)
(traduções de Joaquim Manuel Magalhães e Maria Leonor Telles, in As Escadas não têm Degraus 3 - Março de 1990, livros Cotovia)

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