(...) Para que qualquer impressão possa ser convertida em matéria de arte, é mister que, primeiro, se transmute em impressão, não parcialmente, senão inteiramente, intellectual. E «intellectual» quere dizer, não da intelligencia como expressão superior da personalidade, mas da intelligencia como expressão abstracta d'ella. Em outras, e mais simples, palavras: só quando o individuo se converte, pela intelligencia, em um pequeno universo, tem materia, na impressão, em que assim se converte, para fazer o que chamamos arte.
O que sentimos é sómente o que sentimos. O que pensamos é sómente o que pensamos. Porém o que, sentido ou pensado, novamente pensamos como outrem - é isso que se transmuta naturalmente em arte, e, esfriando, attinge a forma.
Não confie no que sente ou pensa, senão quando houver deixado de o sentir ou pensar. Assim utilizará, em proveito seu e de todos, a sua sensibilidade, naturalmente predisposta para esse aproveitamento.
(excertos de uma carta a Adolfo Casais Monteiro, datada de 11 de Janeiro de 1930)
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