28.2.08

RUBEN A.

SONHO DE IMAGINAÇÃO
(excerto)

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Talvez a realidade possa ser apreendida na forma estranha da arte, mas eu, fincado em espaços divinos, lembro-me destas palavras: Floresta – Dália – Medusa – Silvalde – Maresia – Saudade – Sonho e cheiro o mar na onda da praia na concha da espuma quando também me lembro do cheiro misteriosos em castanhos efeitos a sair da terra molhada. E... vejo o céu na nuvem passeante adormecida na cor sem forma de adeus. O ritmo de palavra é como se pode ver uma expressão musical – quanto mais afinado está o ritmo harmónico mais sensível aparece o estado de alma dado em pormenor pelo som silábico. Os meus estudos imaginativos têm-me levado a estas novas possibilidades onde a alma consegue definir-se estaticamente, o verbo é a criação e o ritmo é a necessidade de agitação para o homem – As palavras são a essência da vibração como folhas de árvore são necessidades de vento. – Toda a religiosidade da natureza é dada pela interpretação ritmada do verbo – o verbo divino nada mais é do que a possibilidade vocálica de Deus!
Que pena não ser do senso comum. A resposta seria fácil, triunfante e política. – Quem cantasse melhor seria o papa desta nova interpretação evangélica e sacerdotes recrutar-se-iam dos grupos corais e folclóricos quer eles se destinassem às cidades ou aos campos, vilas, aldeias, lugarejos. A cantiga de Schubert – Deus na natureza – dava o elemento de comunhão espiritual onde a eternidade era apreendida em momentos de êxtase vociferante. Voilá, mon Vieux.
Este caso, sem ser uma necessidade patológica de análise é o exemplo típico do homem que pensa e que sente mas que ao mesmo tempo nada consegue fazer de útil e positivo porque é um revoltado.
(...)

(de Páginas (I), 1949)

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