29.10.08

CARL SANDBURG

Quem conhece o povo, os seareiros emigrantes e os apanhadores de fruta, as vítimas de empréstimos fraudulentos, os especuladores das casas a prestações,
Os malabaristas da areia e da madeira que amaciam as mãos passando-as pelo molde onde vai ser fundida a estrutura do motor do nosso carro,
Os pulidores de metais, os soldadores, e os pintores que aplicam os acabamentos ao automóvel,
Os rebitadores e os roscadores de parafusos, os cavaleiros de vigário na grande cidade, os vaqueiros das Grandes Planícies, os ex-condenados, os porteiros de hotel, os carregadores dos caminhos-de-ferro, os guardas das retretes –
O recrutador do sindicato com a lista daqueles que estão prontos a aderir e a dos hesitantes, os informadores pagos secretamente que denunciam qualquer movimento organizativo,
Os que andam de casa em casa procurando adesões, os que tocam às portas, os que dizem bom-dia-já-ouviu-dizer-que, os dos piquetes de greve, os fura-greves, os que são pagos para causar distúrbios, o pessoal da ambulância, os que vão atrás da ambulância, os que querem tirar fotografias, os que lêem os contadores, o pessoal dos barcos de pesca à ostra, os faroleiros –
quem conhece o povo?
Quem conhece tudo isto desde o fosso aos pináculos? É o povo, sim.

(tradução de Hélio Osvaldo Alves, in O escritor – Revista da Associação Portuguesa de Escritores, Nº 13/14 – Dezembro de 1999)

Sem comentários: