27.12.08

ANA HATHERLY


HISTÓRIA DA MENINA LOUCA


Procuraram toda a casa, toda a terra,
Ninguém a achava.
Ela estava no telhado atrás da chaminé,
Olhava as estrelas e cantava.
Estava tão feliz e sossegada!
Olhava as estrelas e cantava.

Meu Deus, está louca!
Vamos levá-la.

Estava tão feliz!
Olhava as estrelas e cantava...

***

Dai-me, Senhor, um limite para a ambição,
Que a desmedida é grande impiedade!

Não se saber aonde se acaba
E até onde podemos nós sonhar...
Que, mesmo no sonho,
Eu quero me encontrar.

Se assim não fora,
Não poderia
Crer e amar.

***

A minha vida é poética:
Paira entre a vaga mentira e a realidade.

O amor me acontece
Como as folhas às árvores,
E tão singularmente,
Que já nem sei se é natural à árvore ter folhas
Ou estar nua...

(de Um Ritmo Perdido, edição da Autora, 1958)


O SEXTO SENTIDO

Estamos aqui
Em estado de liberdade
Condicionada pela enorme filáucia do próximo
Que um poeta desconhecido confirmou
Quando disse:
O sexo existe
Vem da palavra six
Igual a sexto sentido
Que é feminino

E acrescentou:
A maçã
É para ser comida

(de A Neo-Penélope, &etc, 2007)

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