Natal
Escolhe o aperitivo do bebé para tomar
Numa corneta acústica.
A privação enfurece: pelo menos
Alegra-te com o teu cativeiro.
Dá limões ao Maurice.
Partiu a louça,
Feito parvo no sótão,
Empanturrando-se de biscoitos e azeitonas.
Esta é uma família feliz.
Vem, canta o porto,
Ea as noites enfardando caldeirada,
Vamos infiltrar-nos na casa ao lado,
Fazer outra festa.
1950
Tudo isso
Tudo isso fiz
E, ao fazer, menti.
E tudo isso que escondi
Fingi estar morto.
Mas tudo isso que escondi
Foi sempre dito,
Mas, escondido, espiava
O bem de outrem.
E tudo isso levei
À certa para a cama
E, na cama, disse
Aquilo que fiz
A tudo isso que chorava
Por trás da minha cabeça
E, ao chorar, morria
E não morreu.
1970
(tradução de Jorge Silva Melo e Francisco Frazão, in Várias Vozes, edições Quasi, 2006)
2 comentários:
muito bom!
abraços,
c.
Mais um excelente escritor que nos deixou.
Obrigada, Rui, por divulgares aqui dois belos poemas.
Beijos
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