26.12.08

HAROLD PINTER

Natal


Escolhe o aperitivo do bebé para tomar
Numa corneta acústica.
A privação enfurece: pelo menos
Alegra-te com o teu cativeiro.

Dá limões ao Maurice.
Partiu a louça,
Feito parvo no sótão,
Empanturrando-se de biscoitos e azeitonas.

Esta é uma família feliz.
Vem, canta o porto,
Ea as noites enfardando caldeirada,
Vamos infiltrar-nos na casa ao lado,
Fazer outra festa.

1950


Tudo isso

Tudo isso fiz
E, ao fazer, menti.
E tudo isso que escondi
Fingi estar morto.

Mas tudo isso que escondi
Foi sempre dito,
Mas, escondido, espiava
O bem de outrem.

E tudo isso levei
À certa para a cama
E, na cama, disse
Aquilo que fiz

A tudo isso que chorava
Por trás da minha cabeça
E, ao chorar, morria
E não morreu.

1970

(tradução de Jorge Silva Melo e Francisco Frazão, in Várias Vozes, edições Quasi, 2006)

2 comentários:

Anónimo disse...

muito bom!

abraços,

c.

panaceia disse...

Mais um excelente escritor que nos deixou.
Obrigada, Rui, por divulgares aqui dois belos poemas.
Beijos