17.7.09

ARJEN DUINKER

X


As esquinas estão nuas.
As palavras estão nuas.
Em Córdoba há uma esquina onde os homens mijam
Quando têm a barriga a rebentar da cerveja,
Gemendo de alívio,
De olhos semi-cerrados.

Em Lisboa há também uma esquina assim,
Nem o vento a chegar sobre o Tejo
Consegue limpá-la.
Parei para ver,
Surpreendido pela nudez daquela esquina.

De uma varanda alguém me gritou. «Estás à procura de quê?
Oh, rapaz, esta esquina é muito especial.
Cada ano cinco mortos! Olha bem
E volta para casa.
Volta para casa.»
A mulher pigarreou e mandou um escarro valente.
E eu, fugindo a sete pés,
Admirei-me da nudez daquela esquina.

(in A canção sublime de um talvez, selecção e tradução de Arie Pos, editorial Teorema, 2003 – original de Losse gedichen / Poemas soltos, 1990)

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