18.7.09

JOSÉ SESINANDO

RESPOSTA URGENTEMENTE ENVIADA AO POETA
RUI KNOPFLI,
QUE NUMA CARTA ME PEDIA:
«POR FAVOR, MANDE-ME DIZER NA VOLTA DO CORREIO SE MOZART AINDA É O MAIOR.»

Rui: assim pego na pena e célere respondo.
Mozart é o maior; Mozart é bestial;
é um fruto afiado; é um gume redondo;
é um sentir-nos bem de nos sentirmos mal
(desculpa, Luís Vaz); é o preto no branco;
é os pontos nos ii; é não só mas também;
é advérbio e verbo; mentiroso e franco;
é o cá e o lá; o mil de humilde; o cem e o sem;
é nuvem perfurada; um gajo do caneco;
é um sentir-nos mal de nos sentirmos bem
(previ a reacção); é o ar do pneu do eco;
é um furúnculo na lama; é a calma do furúnculo;
é um
parking lot no trânsito do peito;
é lupa, macroscópio, estetiscópio; é um colo-
ssal buraco muito alto; é despeito desfeito;
é o que tinge o vinho; o som do fim do saco;
é puro génio; é um tipo com jeito;
boletim misteriológico do meu taco a taco;
– e numa carta breve continuarei dest’arte,
se a tanto me ajudar o Amadeus Mozarte.


1967.

(de Poemas com dedicatória, in Obra Ântuma, publicações Europa-América, 1986)

1 comentário:

yodleri disse...

Espectacular a métrica e rima em "colo-
ssal". Estrondoso!
Mozartiano, direi!