RUI PIRES CABRAL
Montanha
Eu fiz das grandes cidades o meu desejo,
nelas subia à montanha invisível onde era quente
e seguro. Na impressão da tua boca havia uma árvore
que me abraçava contra a frialdade do céu.
Veríamos essas praças cheias de gente inócua,
os palácios pequenos e arrumados como num livro
que já não apetece. Perder o sentido ao mundo
era apenas como perder o caminho
para casa, uma questão simplesmente
topográfica. E eu trocava a nata de um ano inteiro
pelos primeiros segundos da tua respiração,
dava-te os meus pulsos a beber
na latitude conquistada aos últimos pássaros.
(de A Super-Realidade, edição do Autor, 1995)
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