4.9.09

ISABEL FRAGA

O LAGO


Os remos afundaram-se
No olhar do lago

Levando ao longo
Das raízes líquidas
O peito estreito e fundo
Onde cabíamos

Perdi o tempo
 beira da consciência
Onde fiquei
Rocha, frágil, areia
Tocando aquele olhar
Doído e claro
Que o sol tornava
O espaço
De todos os sons

Por muitos meses
Busquei os pássaros
E os peixes

Para reconhecer
Um pouco de alma
Na imagem fria
E alongada
Que bebiam

Quando por vezes
No corpo
Do céu líquido
Se olhavam estranhos
Parecendo conhecer-se.

(de Face, Gota de Água / Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984 – colecção Plural)

1 comentário:

Paula Raposo disse...

Sou fascinada por poesia. Este poema é lindo. Não conhecia.