JOÃO CANDEIAS
DESERTOS
1
Sabes deste deserto exangue. Aqui te falo
com as caravanas sobre o deserto das palavras.
Nos recantos guardam-se os segredos
que acantos escondem em ramagens aladas.
Na tua boca, no recesso desse murmúrio, tanto corpo despertámos.
Da tua voz vaga, a memória: foi neste remanso
que destruímos vagos ícones, foi no segredo destas
pedras que inventámos a alquimia do corpo
poro a poro fundimos novos destinos.
Cresceu o tempo entre o sol e a noite, templo de ausências.
Encheram-se os olhos de deserto, de lágrimas. Esparsos oásis.
Os pés em fogo, a água ausente, lágrimas apenas. O horizonte
junto ao céu, longe. Rastos, vestígios, peregrinações
2 (variante)
Sabes deste deserto exangue. Daqui te falo
donde os recantos guardam os segredos.
Aqui te falo, com as caravanas sobre o deserto das palavras.
Sabes deste deserto que os acantos escondem
nas aladas ramagens.
Tanto corpo despertámos. Aqui te falo.
Murmúrio, voz e memória: destruímos vagos ícones
no segredo das pedras, nas aladas ramagens.
Inventámos o corpo, a alquimia dos destinos.
Cresceu o sol e a noite, cresceu o templo das ausências.
Enchem-se os olhos de deserto, de lágrimas.
Aqui te falo. Sabes deste deserto exangue
(de Voltei à casa pequena, editorial Diferença, 1999)
Cinza, Rosa Oliveira, Tinta da China
Há 16 minutos
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