JOSÉ AUGUSTO MOURÃO
DA CRUZ
abre os nossos olhos, Deus
aos sofrimentos dos que ao nosso lado sofrem,
tu que percorreste a distância que vai
do que se faz no tempo,
ao juízo último
e passaste pelos sofrimentos visíveis
à glória pela cruz,
cordeiro inocente em quem todas as vítimas
do mundo se reconhecem;
que percorrendo os caminhos obscuros dos que
connosco passam,
te reconheçamos, Deus, que conheces o dia
e a hora das nossas acções e dos nossos desejos;
acolha-nos a água da tua misericórdia,
Deus do homem para todos os homens,
Deus no Espírito do estremecimento e da alegria.
Deus, tu que conheces as pedras
em que tropeçamos
ou em que fazemos os outros tropeçar –
porque essa é a lógica do desejo
que nos cega os olhos
e nos traz acorrentados à ambição e ao ressentimento,
abre o nosso coração ao acolhimento
que não aliena
e os nossos olhos ao Evangelho
que não se muda em ídolo
pedimos-te, Deus,
que não nos tornemos obstáculos
uns para os outros,
nem o saber violento da violência
seja a palha no olho do irmão que julgamos sempre,
nós que vivemos debaixo da tua cruz
esperando que se cumpram em nossa vida
os dias da tua criação contínua
e o dom do teu amor no Cristo
que venceu a morte
e no Espírito que nos faz rezar-te
hoje e nos dias todos da nossa esperança.
Deus que nos colocaste
no jardim da tua decisão primeira
para o cultivar e o guardar,
tu que conheces o animal que chouta à nossa porta
que imita o animal que se devora
e no sangue das guerras
e da dominação que faz escravos se sacia;
vem buscar-nos, Deus,
ao fundo dos nossos medos e do nosso ressentimento acusador;
que a espada de fogo da tua palavra
nos aponte os caminhos da diferença boa e feliz
até ao teu encontro face a face no teu Dia
hoje e em todos os dias da nossa viagem para ti.
(de Vazio Verde (o Nome), 1985)
Cinza, Rosa Oliveira, Tinta da China
Há 25 minutos
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